quinta-feira, dezembro 20, 2007

O QUE PENSA A FILOSOFIA SOBRE A MÚSICA?


Informativo no. 15
A música, segundo historiadores, é tida como a primeira linguagem dos homens primitivos. Esses afirmaram que a exposição do homem ao som de sua própria voz foi o que o ajudou na construção da estruturação dos tons da música.
Na linha do tempo, quando retrocedemos na história das antigas civilizações, começamos a entender a real importância da música no contexto da formação cultural de um povo. Os antigos egípcios a entendiam como energia vibratória universal; para os gregos, era a música das esferas; já para os chineses, a música era como a energia celeste da perfeita harmonia.
Também para os filósofos, a música foi motivo de reflexão:
Pitágoras defendia que toda música podia ser reduzida a números e relações matemáticas e que o universo inteiro e todos os fenômenos nele incutidos também podiam ser explicados nos mesmos termos, nos mesmos números e relações matemáticas encontrados na música. A compreensão pitagórica sobre a música era muito mais que materialista: era aliar o conhecimento acadêmico e a experiência prática da música a um genuíno e sério desenvolvimento espiritual interior.
A partir do século VI. a.C., em Atenas, começaram as realizações dos concursos de música que foram responsáveis por impulsionar o desenvolvimento técnico das artes em geral, como por exemplo, a pedagogia necessária para formação de novos músicos, abrindo espaço para a reflexão da filosofia no campo da teoria musical.
Segundo Sócrates, considerado o maior dos filósofos de todos os tempos, o benefício que a música, assim como todas as artes em geral, poderia trazer ao homem, não se encontrava unicamente no prazer da exaltação dos sentidos ou no prestígio trazido pela vitória em concursos, mas no desejo de se tornar mais sábio e moralmente melhor, através do desenvolvimento das faculdades racionais, próprias do ser humano. A música, assim como a prática filosófica, deveria perseguir objetivos mais nobres como, por exemplo, promover a elevação da alma através do aprimoramento intelectual e espiritual.
A aproximação entre música e filosofia, pretendida por Sócrates, se expressa na relação entre a música e a sua concepção de sabedoria. Naturalmente, não é possível haver música sem um saber das técnicas básicas e necessárias à sua execução, mas a sabedoria que Sócrates reclama à musica, vai além do saber técnico; ela requer, também, a inspiração. Por outro lado, Platão, o mais severo crítico da música naquela época, achava que a sabedoria se opunha a toda e qualquer aptidão natural. Essa concepção, tão defendida por Platão, é criticada por Sócrates, por compreender que poucos poetas compunham suas obras por sabedoria, por dom natural e, em estado de inspiração, assim como os adivinhos e profetas.
Dessa forma, a criação musical, assim como qualquer outro fenômeno, carecia de uma explicação que não se apoiasse, somente, numa forma mítica de pensamento, a qual não explicava o modo pelo qual a música era composta e executada. As explicações eram imputadas, unicamente, ao fato de que os músicos eram inspirados; entretanto, era necessário, também, o reconhecimento de que os artistas deviam seus talentos, também, à compreensão de um código musical comum e ao cumprimento de certas leis determinadas racionalmente.
De qualquer forma, enquanto o sentimento de prazer é desmerecido por Platão em uma prática musical sem fins mais elevados, o filósofo a exaltará, se esta aparecer associada ao âmbito da teoria. Nesse sentido, a música é até mesmo elogiada como disciplina introdutória à reflexão filosófica, à medida que oferece condições para a aplicação do método dialético na transposição do plano sensível para o inteligível. O prazer é, portanto, elogiado por Platão à medida que se transforma no prazer do estudo e do aperfeiçoamento moral.
Corroborando com o pensamento de Sócrates, Aristóteles afirma que as emoções, de toda espécie, são produzidas pela melodia e pelo ritmo, sendo que, através da música, o homem se acostuma a experimentar as emoções certas. Portanto, a música tem o poder de formar seu caráter, e os vários tipos de música o de influenciarem o mesmo, ora operando na direção da melancolia, ora incentivando a renúncia, outra o domínio de si, em seguida, o entusiasmo, e daí por diante.
Sendo assim, tais pensadores, os filósofos, comungavam a idéia de que a intenção que está por trás de cada uma das atividades humanas é o que deveria ser valorizado. Provavelmente, tenha sido essa perspectiva que os conduziu a uma posição crítica com relação ao exagero sobre a busca da perfeição técnica dos músicos. Na realidade, não menosprezavam a técnica, mas desejavam que essa mesma técnica, aliada à inspiração, fosse o ponto de partida para uma reflexão filosófica.